RPA – Rede de psicanálise aplicada – “Tudo por fazer”

RPA – Rede de psicanálise aplicada – “Tudo por fazer”

Ricardo Seldes

Ricardo Seldes

RPA – Rede de psicanálise aplicada

“Tudo por fazer”

Ricardo Seldes – EOL – AMP

… Hoje, está prestes a enraizar-se na psicanálise uma rotina de uso, como Lacan  expressou que faz com que o efeito terapêutico seja o começo e o fim da disciplina, e inclusive sua justificativa. (…) dar esse caráter central à ação terapêutica nada mais é do que ceder ao que o mundo exige da psicanálise para seu próprio fim, para seus fins utilitários, para seus objetivos de governo. Caso contrário, estaríamos cedendo, abrindo as portas da cidadela psicanalítica e deixando que esse preconceito se espalhe por ela. O preconceito terapêutico é o cavalo de Tróia através do qual o discurso que prevalece no mundo entra no que denominamos de cidadela analítica, na Escola Analítica, no Campo Freudiano. Acreditamos que saímos do nosso meio, quando na verdade deixamos nosso meio lá fora. Nós não saímos, deixamos entrar. Além disso, o cavalo de Tróia é a figura mítica do presente envenenado.” (J-A Miller – Página 16 de Sutilezas analíticas)

A Rede de Psicanálise Aplicada (RPA) da FAPOL realizou sua primeira reunião em 13 de setembro na sede da EOL sob o slogan “Tudo por fazer”. O auditório foi preenchido pelos membros, aderentes e participantes das três Escolas* que demonstraram previamente seu interesse de participar, no mesmo espírito que o ENAPOL, em uma desejada rede de trocas de experiências de psicanálise aplicada tanto na clinica quanto nas áreas da educação e da justiça onde exercem sua prática.

É uma rede praticamente virtual, pois compreende vários países, idiomas e dialetos que existem na analisante América Latina.

Depois de uma breve apresentação dos responsáveis pela RPA, houve um belo debate em portunhol com intervenções dos participantes, que transmitiram as preocupações e os avanços que se produzem nas cidades e instituições onde desenvolvem seus trabalhos. Queremos saber quem somos, o que fazemos e por quê. Dar razões para nossas ações. A Rede visa garantir que a formação dos praticantes sempre implique a possibilidade de uma melhor atenção para aqueles a quem dedicam seu trabalho, a tempo de ser uma trincheira de defesa da psicanálise frente as terapias cognitivas comportamentais e, pior ainda, contra as ideologias religiosas que rejeitam a dimensão subjetiva e o gozo singular dos indivíduos.

O desafio da RPA é fazer uma psicanálise aplicada com qualidade.

É uma entrada no Outro da cidade, da cultura e, ao mesmo tempo, é uma maneira de fazer o Outro entrar em nossa língua, que visa não ser uma geringonça segregativa. Os participantes concordaram com a necessidade de construir esta Rede, porque entre todas as correntes que povoam as instituições, os analistas lacanianos são destacados pelas melhores razões. Os observatórios da FAPOL terão muitos pontos de acordo. A RPA tenta ser um abre portas para coisas novas, para conhecer e compartilhar as dificuldades e inovações obtidas.

Como construir uma rede, uma interação consistente que permita produzir esses efeitos, apesar das distâncias geográficas, das línguas, dos usos e dos costumes?

ricardo_seldes001Nossa primeira proposta é de caráter epistêmico: a Revista Territorios Lacanianos – Territórios Lacanianos, um nome bilíngue que inclui uma banda de Moebius. Os responsáveis pela revista serão Aliana Santana, Marcelo Veras e Ricardo Seldes. A primeira editora Celeste Viñal acompanhada de Paula Borsoi e Rosa Lagos.

Contará com assessores êxtimos. Foram propostos vários temas (entre eles destacamos o tempo e o dinheiro na psicanálise aplicada).

A conversação se produziu em um clima descontraído e alegre. Localizaremos alguns pontos que dão conta das experiências propostas:

  • inclusão de psicanalistas lacanianos no discurso médico
  • lugar para fazer reflexões clínicas
  • o lugar dos psicanalistas lacanianos e sua época nos pré-pagos
  • a questão do atendimento gratuito, vantagens, problemas
  • o lugar dos analistas diante da urgência que surge da violência na sociedade. Foi dada especial ênfase às dificuldades de exercer a pratica na sociedade venezuelana
  • práticas em diferentes centros de atendimento
  • inter-relação da psicanálise aplicada e psicanálise pura
  • colocar a psicanálise “ao alcance”
  • Criar uma rede de textos de referência
  • o tempo como realidade na psicanálise aplicada
  • fazer um entrelaçamento de conhecimento
  • a psicanálise diante da velhice e da morte
  • assunto de entrevistas obrigatórias
  • o valor de uso da rede com jovens praticantes e estudantes
  • o problema da formação analítica e aplicado
  • como encontrar-se com um analista
  • tempo e dinheiro
  • o problema das conclusões
  • a violência
  • Surpresas das apresentações pacientes
  • como provocar transferência na cidade
  • diferença entre a prática em instituição analítica, da prática de analistas em instituições não analíticas
  • as invenções
  • a inclusão dos Institutos do Campo Freudiano para organizar a transmissão epistêmica àqueles que exercem a prática em nome da orientação lacaniana.
  • apresentações de pacientes que conseguem interferir no gozo da cronicidade e o assistencialismo
  • exploração analítica de diferentes aspectos na sociedade
  • sofrimento no trabalho
  • O problema do autismo
  • os analistas com práticas clínicas em centros universitários
  • o conceito de uma cura em saúde mental
  • Como fazer com o fato de que as instituições periféricas produzem efeitos de formação analítica quando a formação de analistas é uma questão específica das Escolas. É um problema recorrente. Como tratá-lo?

Foi proposto a inclusão na Rede dos não-membros e aderentes que estão trabalhando de forma direta com alguns dos Institutos ou Centros de Assistência. Também foi proposto que os Centros Psicanalíticos possam solicitar a admissão à Rede. Estes pontos serão definidos em breve. A reunião encerrou com a marca para continuar com a idéia de “Tudo por fazer”.

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* e a inclusão de membros do grupo Lacanian Group Montevideo (GLM) associado à FAPOL
Tradução: Jussara Jovita Souza da Rosa

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