
Lisa Erbin. EOL- AMP .Técnica Mixta. Óleo e colagem
Rômulo Ferreira da Silva – EBP – AMP
Caros leitores!
Com muito gosto apresento a vocês o quarto número da REVISTA LACAN XXI!
Esse número me alegra de forma especial porque nele vocês poderão encontrar notícias do que ocorreu em Buenos Aires há pouco mais de um mês, e também, textos que nos preparam para o XI Congresso da AMP, que ocorrerá em abril de 2018, em Barcelona.
Começamos com um texto de Anna Aromí e Xavier Esqué.
Eles nos apresentam um panorama atualizado do tema do nosso Congresso: “Cada vez mais o campo do ordinário cresce e a exigência diagnóstica muda de acento”. Abordam essa exigência apontando para a necessidade de que nos perguntemos como cada um, na clínica, se vira com o real. Eles se interrogam: “Então, todos ordinários até que não se demonstre o contrário? E como demonstrar o contrário?”
Dão consequências a essas perguntas afirmando que é preciso demonstrar a neurose, que o Nome-do-Pai é a espinha dorsal de toda neurose.
E mais ainda, que em uma psicose ordinária, ao contrário, “Pode-se captar o esforço singular do sujeito para fabricar ou sustentar a função de amarração de um sintoma para defender-se do real. E que o faz sozinho, com o sintoma, porém sem o pai.”
Acrescentam que o Congresso de Barcelona coloca à prova um Che vuoi analítico porque faz surgir os impasses dos analistas na clínica que praticam.
Em seguida, duas referências orientadoras sobre o tema das psicoses ordinárias. Uma entrevista de Eric Laurent, publicada na Revista Virtuália número 16, e um texto inédito de Graciela Brodsky.
Graciela retoma os vinte anos de estudos sobre o tema no Campo Freudiano localizando três datas:
1998 – A convenção de Antibes escande o terceiro tempo de uma série que se abriu em 1996. Destaco a pergunta: se tratou do uso pragmático de uma expressão da língua comum para nomear um campo de fenômenos próprios de uma clínica que não se deixava tomar completamente?
2008 – Jacques-Alain Miller convida a todos para dar o seu sentido e sua definição da psicose ordinária, numa aposta de que essa expressão pudesse provocar um eco na clínica. Graciela avança com uma conclusão decisiva: “A psicose ordinária não é o nome lacaniano do ‘borderline’, não é uma entidade intermediária entre a neurose e a psicose.”
2018 – “[…] a psicose ordinária seria uma manifestação clínica do declínio do Nome- do-Pai e da foraclusão generalizada.”
Na entrevista de Laurent podemos retomar pontos fundamentais a partir dos quais a pesquisa do tema se desenrolou. Ele diz: “A relação com a língua é desencarnada, com efeito. É uma variante do ‘a céu aberto’… Não há mais proteção. Não há mais as coberturas, não há mais as seguranças que dava o fato de que as palavras querem dizer uma coisa, porque em última instância o pai o disse.”
Para quem leu uma boa oportunidade de retomá-la. Para os que não a conhecem, uma leitura necessária!
A FAPOL elegeu o Observatório “A violência e as mulheres na América Latina” para nos fornecer o panorama do trabalho fecundo que ocorre nos Observatórios, dando ênfase ao tema do XI Congresso da AMP. Três belíssimos textos!
Ondina Machado, no texto, “As loucuras violentas e o feminino”, nos diz que “Para a psicanálise a violência que envolve mulheres não pode ser reduzida à chamada violência de gênero”… “Para abordar as loucuras violentas e o feminino vamos discutir alguns aspectos teóricos e uma ilustração na qual é uma mulher a responsável pelo ato violento dirigido ao feminino que a assombra. Aborda a “junção mais íntima do sentimento de vida do sujeito” através de um caso: A Fera da Penha
Beatriz García Moreno, com o texto “Beleza feminina: paixões e violências…”, diz que “a beleza relacionada com o feminino pode converter-se em um ideal que incita não só desejo, mas também a violência…”. Os casos de rostos queimados com ácido na Índia, Paquistão e na Colômbia, e a construção de dispositivos frente a essa violência, são apresentados.
O texto investigativo de Jorge Chamorro nos conduz a meandros da diferença entre ideologia e lógica, coloca a vítima em questão por sua posição de sujeito: “[…] a categoria ‘vítima’, desresponsabiliza a mulher e a coloca como ‘reivindicadora’, que é o nome do apagamento do feminino”. A proposta psicanalítica de que “Escutar cada sujeito sem preconceitos permitirá ao psicanalista separar a mulher e o homem dos universais, separar o ato do ser, interrogar os sintomas que produzem os dispositivos de proteção da vítima” nos orienta nesse trabalho. Podemos conferir tudo isso com um caso interessante!
Breves notícias das reuniões das Redes da FAPOL também poderão ser lidas aqui.
IUFI
Gastón Cottino nos apresenta o tema da reunião: “Aportes à formação e à pesquisa na Universidade desde a Orientação Lacaniana”.
Na primeira mesa: “O ensino da psicanálise na Universidade”, na segunda: “Pesquisa em psicanálise na Universidade”. Algumas diretrizes foram traçadas a partir dessa reunião.
María Victoria Clavijo enfatiza os trabalhos dos Cartéis, dispositivo utilizado para inserir esse trabalho no seio das Escolas, com algumas questões levantadas: “Como é possível introduzir o analítico na prática universitária?”, “É possível conceber estas propriedades(do analista) para o professor(na Universidade)?” . “O que faz um psicanalista na universidade?”
RPA
O slogan “Tudo por fazer”, esclarece a posição tomada pelos responsáveis por essa rede. O texto de Ricardo Seldes esclarece do que se trata esse trabalho recém iniciado, mas que promete frutos importantes para a FAPOL: “intercâmbios de experiências de psicanálise aplicada, tanto clínicas como nas áreas da educação e da justiça, onde se exerce a prática”. Os praticantes querem dar razões aos seus atos.
A primeira proposta é de caráter epistêmico e propõem a Revista Territorios Lacanianos – Territórios Lacanianos, “um nome bilíngue que inclui uma banda de Moebius.”
RUA
Lúcia Grossi apresenta as duas mesas de trabalho que ocorreram: “O ensino da psicanálise na Universidade” e “Adolescência: entre família e sociedade”. Confiram os resultados das discussões!
O ponto alto dessa Rede, que já funciona há mais tempo na FAPOL, foi o lançamento da Revista Cythère?
Os presidentes das três Escolas da América Latina nos brindam com “um saldo de saber” como ressonâncias do VIII ENAPOL.
Para Clara Maria Holguin, o ENAPOL “É produto de uma família inédita que faz nó”. Gustavo Stiglitz nos diz que “o campo freudiano tem ares de família, de uma família bem ativa”, e Fernando Coutinho nos acrescenta que “desde uma nova leitura dos “Complexos familiares” até à do seu ultimíssimo ensino (de Lacan), a família foi abordada por colegas que como sabemos se situam nos mais diversos momentos de suas formações de analistas, sendo essa, aliás, a grande originalidade desse megaevento”.
Por fim, DianaWolodarsky e Heloisa Prado Rodrigues da Silva Telles nos apresentam seus comentários sobre os Escritos e Outros Escritos de Jacques Lacan. Imperdíveis, confiram!!!!!