HISTÓRIA DO PASSE NA NEL
Marcela Pimentel, “Tudo”. Fotografia. Série BCN. Rede da EOL. María Cristina Giraldo - AE da NEL e da Escola Una - AME NEL-AMP O comunicado do Secretariado do Passe da AMP – em 27 de abril de 2016 – sobre a minha nomeação pelo Cartel do Passe da EOL como AE da Escola Una na NEL, teve o estatuto de um acontecimento imprevisto. Uma surpresa que produziu uma descontinuidade no autômaton e que em parte fez uma questão, em relação a se seguíamos nos considerando uma Escola em formação, que foi como iniciou a NEL. Embora soubéssemos o que é...
PER-VERSÕES CONTEMPORÂNEAS: BILLONS
Gaby Melluso. “Sem Título” Fotografia. Camila Candioti - EOL-AMP Na tela, a cena começa com uma pessoa deitada no chão, com os pés e mãos atados, com uma mordaça na boca; a respiração está acelerada e o olhar ansioso procurando… não se sabe o quê. Ouvem-se passos se aproximando; instantes depois se escuta uma voz: “Precisa que te castiguem, não é verdade?”… a cena continua, sem que se veja ainda nada novo. A voz continua dizendo: “Talvez te deixe marcas”… e vê-se uma mão que apaga um cigarro aceso no peito de quem está ali embaixo. Segundos depois, para selar...
Ser sexuado no século XXI: O que há de novo?
Susana Carbone. “Ventisca”. 0.60 x 0.50. Acrílico Blanca Musachi - EBP - AMP No início do século XIX, Sigmund Freud pôs a investigação psicanalítica a serviço de uma definição ampliada da sexualidade humana, considerando a importância do gozo sexual independente da reprodução, o que é possível constatar nos estudos das perversões e da sexualidade infantil. O que há de novo, com Freud, é que na sexualidade humana não se trata de instinto, como no reino animal, mas de uma pulsão sexual. O objeto é indiferente, pois pode ser qualquer um em torno do qual a pulsão realiza o percurso para...
“...Que o real esteja ancorado”!
Marcela Pimentel. “Ponto infinito”. Fotografia. Série CLF. Rede da EOL Carmen Silvia Cervelatti – EBP - AMP Eis um apelo em relação ao real! Solto, ele acarreta estragos. No Seminário 19, Lacan fez esta afirmação relacionada às relações entre os sexos e suas diferenças. A função Φ x é um modelo que permite fundamentar algo diferente do semblante, pois o gozo sexual não é semblante do sexual. Um discurso que não fosse semblante acabaria mal, não seria laço social. Fora do semblante estaríamos, então, num campo em que o Outro não existe, não que não possa vir a consistir de alguma...
QUATRO PONTUAÇÕES PARA UM DEBATE COM O MOVIMENTO FEMINISTA UNIVERSITÁRIO NO CHILE
Susana Carbone. “Bailarinas”. Acrílico. 0,40x0,30 José Luís Obaid Pizarro - NEL-Santiago-AMP Prelúdio A conjuntura nacional instala no seio do debate público um significante que irrompe como novidade, apesar de ter uma longa trajetória dentro dos movimentos sociais, culturais e artísticos em todo o mundo: o feminismo. Embora as manifestações feministas estejam enquadradas como um fenômeno global – o que tem sido chamado de a quarta onda feminista –, no Chile as universidades assumem a aposta com uma série de ocupações e greves em distintas e variadas faculdades, que denunciam não só o abuso de poder e tratamento discriminatório e desigual,...
LEI E HOMOSSEXUALIDADE NO CHILE
A.A. Escultura em pedra. Vigeland. Fotografia. Parque das esculturas. Noruega. Carlos Barría Román - Associado NEL-Santiago - AMP Este trabalho forma parte de um ateneu de investigação na sede NEL-Santiago, que se constituiu a propósito de nossa participação no Observatório de biopolítica, gênero e transsexualismo. Usamos o significante ateneu, posto que remete a Atena, deusa grega do saber. Minerva para os romanos. Justamente, se trata de uma época em que é preciso produzir um saber, sobretudo quando falamos de sexualidade nos tempos de pluralização dos nomes do pai. É interessante recordar, no marco de nossos observatórios, que Minerva tinha uma...
AS INFÂNCIAS TRANS E A PSICANÁLISE
Mario Martínez. “Esperando a água no planalto”. Acrílico. 1,40x1,40 - Pintor correntino. Nqn. Patricio Álvarez Bayón - EOL-AMP A psicanálise e o gênero Historicamente, a psicanálise tem apoiado e compartilhado seu caminho com o movimento LGBT e o feminismo. Freud foi o primeiro a fazer a distinção entre o sexo anatômico e o psíquico, e foi um inspirador fundamental daquilo que mais tarde seriam os estudos de gênero. O livro Sexo e gênero, de Robert Stoller, de 1968, é considerado o iniciador desses estudos. Esse autor construía sua teorização a partir das ideias de Freud. Leo Bersani, um importante autor...
IDENTIDADE E SEXUAÇÃO NA ATUALIDADE
Irene Accarini. Colagem. Série “Corpos dobráveis”. Img. C. Gardos. EOL-AMP Paula Husni – EOL-AMP Não há gozo último que nos alivie definitivamente da angústia. Esse é o impossível com que o discurso do gozo se vê confrontado. Éric Laurent A era das águias Gérard Wajcman afirma que a hipermodernidade é a instauração de uma civilização do olhar, na qual se reúnem a sociedade da vigilância e a sociedade do espetáculo: “Entramos na era das águias. É característico das águias ter olhos maiores que o cérebro. Isso não significa que elas sejam idiotas, mas que pensam com os olhos”. Trata-se...
TEORIAS DE GÊNERO – UTOPIA DO ILIMITADO
Mónica Biaggio. Aquarela. Série Corpos. EOL-AMP Esteban Klainer – EOL – AMP “Em todo caso, que não há progresso. O que se ganha de um lado, se perde de outro.”. O propósito deste artigo é assinalar alguns aspectos das denominadas teorias de gênero que podem colaborar para pensar o seu debate com a psicanálise. Muitas das elaborações feitas a partir de nosso campo sobre este tema destacam fundamentalmente um ponto da controvérsia psicanálise-teorias de gênero. Essas teorias sustentam uma crítica á psicanálise por seus desdobramentos sobre as identificações sexuais como resultado da passagem pelo Édipo, mas desconhecem as elaborações...
O Acontecimento Butler: uma questão de escritura
Susana Carbone. “Emergindo”. Acrílico 0,60x0,50. Solana González Basso - (Observatório Gênero, Biopolítica e Transexualidade - EOL) Originalmente, a pista para entender a performatividade me proporcionou a interpretação que Jacques Derrida de “Ante a Lei” de Kafka. Judith Butler A escritura não é a impressão, apesar de todo o blábláblá sobre o famoso Wunderblock. Jacques Lacan Há toda uma história quanto ao modo como que nós analistas abordamos o acontecimento Judith Butler. A bússola habitual foi o contraponto em torno de suas elaborações da identidade. Leio nisso o que Ansermet 1 interpela como “o desejo do clínico e...
O trans não é um dizer
Rosa Basz. “Quadro x por Quadro 3”. Acrílico sobre tela. EOL-AMP Eliana Amor - (Observatório Gênero, Biopolítica e Transexualidade - EOL) Ao ter um corpo temos um mundo, o mundo que acompanha; ao ter um corpo estamos aqui não em outra parte. (Miller, O lugar e o laço.) Proliferação de nominações Dizer homem ou mulher não basta para nomear o real do sexo, já que se trata de semblantes. Dizer que são dois sexos e os supor a partir dos órgãos genitais produz uma confusão de que a anatomia é o destino. Nos anos 70, com as fórmulas da sexuação,...
Identidade e Interpretação das modalidades de gozo da época
G.A. “Ausência”. Fotografia. Série Vegas Mirta Zbrun - EBP-EOL-AMP Quando eles (os meus pais) diziam o nome de um objeto e, em seguida, se moviam em sua direção, eu observava-os e compreendia que o objeto era designado pelo som que eles faziam, quando o queriam mostrar ostensivamente. A sua intenção era revelada pelos movimentos do corpo, como si estes fossem a linguagem natural de todos os povos: a expressão facial, o olhar, os movimentos das outras partes do corpo e o tom de voz, que exprime o estado de espírito ao desejar, ter, rejeitar ou evitar uma coisa qualquer....
Intersexualidade, a anatomia é o destino?
Irene Accarini. Série “Corpos dobráveis”. Img C. Gardos. EOL-AMP Nestor Yellati - AME, EOL-AMP O transexualismo coloca uma situação limite no que se refere à posição sexuada do falasser: o sujeito assume seu sexo em oposição a sua realidade anatômica. Isso pode levar a modificá-la mediante diversos meios, desde hormonais até cirúrgicos, nos casos extremos. O intersexualismo é uma anatomia considerada patológica, o que, ao menos em parte dos casos, impede a assunção plena de uma posição, obrigando a recorrer à intervenção médica, seja esta cirúrgica ou de outra índole. Na época do “Outro que não existe”, o transexual recorre...
Sexo e sexuação
G.A. Fotografia. Série Vegas. EOL-AMP Ronald Portillo - NEL-AMP “Extrai-se a conclusão de que aquilo que constitui a masculinidade ou a feminilidade é um caráter desconhecido que a anatomia não pode apreender” Sigmund Freud. Freud e a castração Freud sempre teve presente que, em relação à sexualidade, encontrava-se algo situado mais além da aparência do biológico. Já desde o ano 1924, a partir de seu artigo “O declínio do Complexo de Édipo”, deu a conhecer sua opinião: o sexo a ser assumido pelo menino ou pela menina é o resultado do Complexo de Édipo e seu pivô, o Complexo...
TRANSMATERNIDADE GAY?
Luis Darío Salamone. “Sem título”. Fotografia. EOL-AMP Marcela Almanza - NEL-AMP O tema das próximas Jornadas da NEL - Que mães hoje? Vicissitudes na experiência analítica - nos conduz a introduzir a questão do materno e do “ser mãe” a partir das perguntas que a prática analítica mesma nos vai colocando desde as análises que conduzimos, não sem deixar de contemplar que nossa prática se insere nas particularidades de uma época que assinala mudanças profundas na família em nível de sua estrutura, componentes e estilos de vida, ali onde o império do pai declina e a ascensão da maternidade contemporânea...
O lugar do falo na sexuação
Marcela Pimentel. Fotografia. Série BCN. A Rede da EOL Angela C. Bernardes - EBP - AMP Uma das entradas possíveis no instigante tema do XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano “A queda do falocentrismo: consequências para psicanálise” é, justamente, pela questão da sexuação tal como proposta no título deste número da Revista da Fapol: “Sexuação, identificações e gênero”. Oriunda da distinção entre gênero e sexo, lançada no final dos anos ’50 pelos ensaios teórico-clínicos de Robert Stoller, a questão do gênero tem sido tratada por uma série de estudos psicossociológicos que opõem sexo (biológico) e gênero (culturalmente assumido). Fato é...