EDITORIAL
Raquel Cors Ulloa – NEL-AMP
Este oitavo número de Lacan XXI chega como um sonho feito de palavras que, como tal, se lê. O leitor encontrará em cada um destes textos, uma similicadência de expressões que se aproximam do tema do XII Congresso da AMP: “O sonho. Sua interpretação e seu uso no tratamento lacaniano”.
Trata-se de um retorno a Freud? Sim! Afirma contundentemente Angelina Harari, não sem se referir à diferença absoluta do sonho, por sua especificidade na direção do tratamento hoje; uma diferença absoluta do Um como horizonte, que se demonstra especialmente na prática e no final da análise. Por sua parte, Silvia Baudini e Fabián Naparstek compartilham – parafraseando Lacan…
TEXTOS ORIENTADORES
A diferença absoluta do sonho
Angelina Harari – Presidente da AMP
“Tenho todo o direito, tal como Freud, de compartilhar meus sonhos com vocês. Ao contrário dos de Freud, não estão inspirados pelo desejo de dormir. O que me move, muito mais, é o desejo de despertar. Mas, enfim, isso é particular”.
Acabo de ler para vocês, a epígrafe do argumento do XII Congresso da AMP. Será este, meu ponto de partida para falar de seu tema: “O sonho. Sua interpretação e seu uso na cura lacaniana”
O sonho. Sua interpretação e seu uso na cura Lacaniana
Silvia Baudini y Fabián Naparstek – EOL-AMP
1900 é o ano que marca o início da psicanálise. Freud publica “A interpretação dos sonhos”. Em 2020, 120 anos depois, estamos em nossa orientação – a orientação lacaniana –, centrando o eixo do XII Congresso da AMP em torno de “O sonho. Sua interpretação e seu uso na cura lacaniana”. O sonho no singular é o sonho que se liga ao sonhador, a um corpo que sonha e que fala desse sonho a seu analista. O sonho se envolve, deste modo, com o corpo falante e com o quê do inconsciente se verifica, quando analisamos o parlêtre.
O duro desejo de despertar
Clara María Holguín – NEL-AMP
Se “o despertar é impossível”, tal como Lacan demonstra em sua censura ao sonho da eternidade, segundo o qual se imagina despertar, a verificação desse impasse revela um “impossível” para a psicanálise, que lança questões, tanto para a prática quanto para a posição do analista.
Como conceber a prática a partir desse impossível? Podemos nos inspirar nele? Quais são as consequências dessa marca?
UMA ORIENTAÇÃO DE CADA ESCOLA
O sonho e seu despertar, ainda…
Marcela Almanza – NEL-AMP
Falar do sonho, sua interpretação e seu uso na cura lacaniana convida-nos, como praticantes da psicanálise, a sustentar sua vigência e função sob transferência, no nível de cada uma das curas que dirigimos e poder extrair daí, as consequências pertinentes.
Ponto de partida que leva a bordear a pergunta sobre como operar analiticamente, no um por um, no caso a caso, desde o início até o fim de uma análise…
O insensato do sonho
Diana Wolodarsky – EOL-AMP
Aconteceu este ano, uma mostra muito atrativa e convocadora no MALBA (Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires), do artista plástico Leandro Erlich.
Poucas vezes um artista pôde atravessar o interesse da diversidade de gerações: adultos, jovens e crianças faziam longas filas de espera para entrar. Ninguém deixava de lado seu interesse em aceder a essa magia.
A ambiguidade do despertar
Sérgio de Castro – EBP-AMP
Vamos examinar um dos sonhos inaugurais da psicanálise, o sonho com o filho morto e queimando, apresentado por Freud no último capítulo de A interpretação de sonhos. Trata-se de um sonho comentado por Lacan no Seminário, Livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, e de onde podemos retirar elementos cruciais sobre alguns pontos, em especial a angústia e o despertar.
SONHOS E DESPERTARES…
Sonho e despertar: fronteira ou vizinhança?
Manuel Zlotnik – EOL-AMP
O tema para pensar é a relação entre sonho e despertar, uma relação que nem sempre é a mesma. Por um lado, indica uma oposição, quando Lacan sustenta que nos despertamos de um sonho para logo continuar dormindo, despertamo-nos para voltar a uma realidade na qual seguimos sonhando.
Desde esta perspectiva, sonhar se opõe a despertar. O sonhar está mais ligado ao acalento do simbólico e seus sentidos, quer dizer, o inconsciente intérprete
De sonhos e despertares
Marina Recalde – EOL-AMP
Gosto muitos dos sonhos, talvez porque encontro neles, um ponto indomável que pode se esconder do outro. É como se algo da intimidade mais íntima estivesse fora do alcance. Inclusive do alcance de si mesmo.
São os sonhos que nos outorgam múltiplas possibilidades de ser um e vários ao mesmo tempo, e não ter a obrigação de ficar em qualquer lugar e em nenhum lugar. Isso é algo que se pode constatar
O sonho: um despertar possível
Andrea B. Perazzo – EOL-AMP
Estamos a menos de oito meses do acontecimento tão esperado por toda a AMP. Na semana de 13 a 17 de abril de 2020, no Hotel Hilton de Porto Madero da cidade de Buenos Aires, terá lugar nosso XII Congresso da Associação Mundial de Psicanálise, sob a direção de Silvia Baudini e Fabián Naparstek, acompanhados por uma Comissão Organizadora, que trabalha incessantemente e da qual tenho o prazer de fazer parte.
TRABALHO NAS ESCOLAS DA FAPOL
Despertar do pesadelo
Joaquín Carrasco – Associado da NEL
A inserção de analistas em instituições de saúde pública implica o desafio de constituir um lugar para o discurso analítico, ali onde imperam outros discursos. Trata-se de uma aposta constante para sustentar uma prática orientada pelos princípios e pela ética da psicanálise. Exemplo disso são os espaços institucionais criados para tratar os efeitos de acontecimentos…
O sonho do Mont-Blanc
Ludmila Malischevski – EOL-AMP
Em 1975, por ocasião de uma supervisão pública em Genebra, Lacan supervisiona um caso em que ensina a ler um sonho. Trata-se de uma paciente feminista de 31 anos, que está há dois anos em análise, e seu analista. Nicos Nicolaidis se pergunta especialmente pelo que ocorre no décimo oitavo mês. A paciente sofre de insônia, “passa as noites em branco” e quer responsabilizar alguém por isso.
A porta para um breve despertar
María de los Ángeles Morana – Associada da NEL
Borges sustenta que, nas narrativas de Ryûnosuke Akutagawa (1892-1927), é difícil “discernir com rigor, os elementos orientais e ocidentais”. Akutagawa era um apreciador do valor artístico da tradição literária japonesa, embora isso não impedisse que também fosse permeável à escritura do Ocidente. Por isso, ele foi impopular em sua pátria até que Akira Kurosawa, em um Japão destruído pela II Guerra Mundial e no qual as questões da verdade e da culpa estavam no auge, combinasse dois relatos – “Rashômon” e “No bosque”…
O impossível do sonho: resposta de Lacan a M. Ritter
Alma Pérez Abella – EOL-AMP
Sonhamos, queiramos ou não. Sonhamos para nos explicarmos o horror, para tecer sobre o indizível; por isso todas as culturas, em todos os tempos, deram um lugar aos sonhos. A novidade de Freud é que, desde o começo de suas investigações, utiliza os sonhos como via de acesso ao inconsciente. Nesse caminho, rapidamente tropeça com certo limite, limite a partir do qual, não se pode avançar mais, ponto no qual a interpretação se detém. O nome que ele deu a esse lugar inacessível foi o “umbigo do sonho”.
Sobre a interpretação na época do parlêtre
Alejandro Olivos – NEL-AMP
O umbigo do sonho é um furo. Tal é o título com o qual a revista La Cause du Désir reeditou a célebre resposta que Lacan deu, em 1975, a Marcel Ritter, em uma sessão preparatória para as Jornadas de Cartéis da EFP. A pergunta de Ritter versava sobre a noção freudiana de umbigo do sonho; o ponto onde o sonho é insondável…
Três perguntas aos sonhos do final. E mais uma
Dennis Ramírez Méndez – NEL-AMP / Dalia Virgilí Pino – Ex-aluna do ICdeBA
Tal pesadelo indica com bastante clareza, o que acontece em um final. Não somente porque mostra a queda do analista e o que sai, tanto do mortífero quanto do dispositivo, mas sim porque o que está indicado é, precisamente, isso: a saída. É poético pensar que há sonhos que respondem à pergunta freudiana…
Um pesadelo não é sem angústia
Marta Goldenberg – EOL-AMP
Este é o recorte de uma sessão que me levou a pensar nas diferenças entre um sonho e o pesadelo, e este alívio que algumas vezes se produz no despertar e que em outras o analisante – aquele que ama o seu inconsciente – continua desbastando durante dias a significação até poder localizar o ponto de angústia e sintomatizá-lo, tratando para que algo disso…
Antes que eu não me desperte
Frederico Zeymer Feu de Carvalho – EBP-AMP
“A vida é uma coisa completamente impossível que pode sonhar com o despertar absoluto”. Esse pensamento, extraído do diálogo de Lacan com Catherine Millot, explicita o que Lacan chamou de “sonho de despertar” (rêve de réveil). “Esse desejo de despertar não é outra coisa senão o sonho de se afogar no saber absoluto, do qual não há vestígio”, teria dito Lacan.
POLÍTICA LACANIANA NA FAPOL
Pede-se uma análise para continuar sonhando
Flory Kruger – EOL-AMP
O tema que nos convoca neste número de nossa Revista Lacan XXI tem a ver com o próximo Congresso da AMP: O Sonho. Sua interpretação e seu uso no tratamento analítico.
Extraí o título deste trabalho de uma frase de Miller que diz assim: “Daí que, às vezes, o que desperta no sonho, a angústia, justifica que seja situada como aparente, como um pseudodespertar, que só está ali para permitir continuar sonhando”.
COMENTÁRIOS DOS ESCRITOS E OUTROS ESCRITOS DE LACAN
Sonho, um toque de despertar
Cleide Pereira Monteiro – EBP-AMP
O Prefácio à edição dos Escritos em livro de bolso (1969), Lacan dedica “para alguém graças a quem isto mais é signo…”, remetendo à onda de redemoinhos que seus Escritos tinham produzido. Inicia com uma referência ao conto de Poe, em alusão ao texto que abre seus Escritos, a saber, O Seminário sobre “A carta roubada”. Neste último, ele se utiliza do equívoco joyciano – a letter (carta/letra), a litter (dejeto) – para distinguir na carta/letra, sua dimensão de mensagem e outra, a de objeto.
Despertar a opacidade
Gustavo Stiglitz – EOL-AMP
“A psicanálise não é uma ciência… É um delírio – um delírio do qual se espera que leve a uma ciência. Podemos aguardar muito tempo! Não há progresso e o que se aguarda não é, precisamente, o que se recolhe”.
Em 1914, Freud escreve a seu filho mais velho, Martin, que estava no front de guerra e com quem compartilhava todas as questões da economia familiar
“Um rio de fogo”. A diferença absluta de Freud
Patricia Tagle Barton – NEL-AMP
Freud, ainda – Certamente, em se tratando de Freud e dos sonhos, referimo-nos sempre à Traumdeutung,2 obra inaugural. O sonho – os sonhos – nos disse, são a via régia, a porta do inconsciente. Freud toma aí, um verso de Virgílio como epígrafe: «Flectere si nequeo superos, acheronta movebo». Avançou nessa via com uma vontade inquebrantável.