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A psicose ordinária 1


lacan21 - 22 de outubro de 2017 - 0 comments

G.A. EOL- AMP. “Cielo abierto”. Fotografía.

G.A. EOL- AMP. “A céu aberto” . Fotografia

Éric Laurent – ECF – AMP

Transcrição de uma entrevista realizada por Jacques Munier a Eric Laurent. J. Munier, um interlocutor informado e advertido da encruzilhada em que se encontra a psicanálise diante da reconfiguração atual do campo clínico, permite a E. Laurent expor as linhas de força que estruturam o referido campo e, a partir daí delinear com clareza os desafios com os quais deve se confrontar a psicanálise. Um tom reflexivo e com conhecimento do caminho percorrido pela psicanálise no século passado em pontos cruciais da clínica com a psicose, acompanha a análise de E. Laurent dos efeitos na clínica do declínio da autoridade e o que pode esperar da psicanálise sujeitos que não contam com os recursos do Nome-do-Pai  para dar um  sentido a sua experiência subjetiva. Enfatizando os que se localizariam a partir da psicose ordinária, com suas pequenas extravagâncias e invenções singulares. Por outro lado, suas ideias, por exemplo, sobre o lugar do avanço no conhecimento biológico e na química do medicamento, assim como  sobre a relação da teoria psicanalítica com categorias de pragmática da linguagem, podem servir de orientação para trabalhar sobre esses temas, já que  incidem de diversos modos na prática hoje.

(Jacques Munier começa a  transmissão lendo ao público umas  palavras  proferidas por  Jacques Lacan em maio de 1976)

“Precisamente é na leitura de Freud que fica atualmente suspensa a questão de saber se a psicanálise é uma ciência, ou  sejamos modestos, pode oferecer para a ciência uma contribuição ou  melhor, se sua práxis não tem nenhum dos  privilégios do rigor do qual se orgulha para pretender elevar a nota ruim do empirismo que sempre desconsiderou os dados  como os resultados das psicoterapias, para justificar também  o pesado aparato que emprega, apesar de algumas vezes, e por sua própria confissão de desempenho mensurável”.

Jacques Munier: É então sob o signo do empirismo e da clínica que vamos a recorrer aos novos  campos abertos pela psicanálise ou ainda mais a evolução da prática analítica e da teoria, nos  domínios mais tradicionais como na psicose. Se trata por esta via de chegar a uma visão  de conjunto da  investigação clínica em  psicanálise, a fim de ver aparecer o que surge do consultório do analista  neste tempos transtornados, e  que fala muito sobre o sobre estado atual da nossa sociedade. Você trabalhou  sobre o tema da psicose a partir do texto canônico de Freud nas Cinco psicanálises consagrado as “Memórias del Presidente Schreber” e a sua  grave psicose paranóica. Depois houve  um longo caminho percorrido pelos psicanalistas, particularmente nos anos  50.

Eric Laurent: Este texto que você elegeu define nosso tempo . O campo das psicoterapias é com efeito  percorrido e renovado  por uma nova tensão  entre os defensores do mensurável e aqueles que criticam o aparato conceitual da psicanálise e tentam  demonstrar  que este aparato conceitual  não se sustenta, diante da  medicina baseada em provas de extensas séries  estatísticas. No entanto, o campo da psicose ordinária  se justifica pela abordagem qualitativa que a psicanálise pode fazer, já  que não é objetivável em comportamentos avaliáveis e mensuráveis, e que dificilmente se integra nas séries estatísticas.

É  interessante observar o  caminho percorrido pela  psicanálise a partir da segunda guerra mundial. No  movimento psicanalítico a  situação era estranha. Em suas últimas obras (1939), Freud advertia aos psicanalistas contra um entusiasmo terapêutico a propósito da psicose e lhes  aconselhava a se concentrarem no   núcleo da  prática das chamadas neuroses. No mesmo momento, na Inglaterra, uma psicanalista originária de Europa central, Melanie Klein desenvolvia com força a possibilidade de abordar e de tratar as psicoses, não somente a de criança com a qual ela desenvolvia uma  técnica particular aumentando a esperança  de prevenção, mas também nas de  adultos. Formava também alunos como Wilfried Bion, por exemplo, que adaptava para o  adulto um novo modo de tratamento das psicoses. Tudo isto criou uma atmosfera muito efervescente nos anos depois da guerra, com uma grande abundância dos métodos propostos, ou melhor, do desenvolvimento dos aparatos necessários para a psicanálise para poder captar a originalidade do fenômeno psicótico.

Estamos aí antes do encontro dos neurolépticos, dos quais podemos dizer que é um pouco obra do acaso,  antes da introdução de drogas no tratamento da psicose. Sabe-se que, por extensão das aplicações de um anestésico, a clorpromazina, ia se ter o primeiro modelo de psicotrópico generalizado. É verdade que, a partir dos anos 60, a prescrição de medicamentos permitiu manter o diálogo com sujeitos psicóticos muito mais do que era possível anteriormente.

Jacques Munier: Tradicionalmente, a psicanálise recomendava não escutar muito o psicótico e fazer falar o neurótico.

A psicanálise aconselhava não se deixar levar pelo delírio. O primeiro tratamento psicanalítico de um caso de psicose extraordinária foi historicamente realizado por Jung. Ele encontrou muito cedo, em 1911, um psiquiatra psicótico que tratou. No princípio fascinado com o desempenho do tratamento, que se esgota rapidamente termina escrevendo para Freud: “Eu não posso mais detê-lo”. Já não tem mais o poder de colocar um limite para a produção hiperbólica imposta ao paciente.

Jacques Munier: A própria concepção de psicose evoluiu bastante. Tradicionalmente, este termo refere-se a graves condições psíquicas, como paranóia, delírio paranóico, bouffées delirantes e esquizofrenia

Éric Laurent: São doenças muito graves. Vemos neste âmbito  uma grande expansão da prática psicanalítica, das consultas psiquiátricas e da clínica na cidade. As pessoas, eventualmente, vão ver o psiquiatra depois de falar sobre os sentimentos que experimentam com o clínico. A noção de depressão encontrou grande sucesso. O senso comum do termo depressão tornou-se parte da linguagem de hoje. Agora é uma espécie de continuum que vai de uma grande tristeza a depressão severa, melancolia, etc. Um novo acento é colocado na bipolaridade, denominado maníaco ou melancólico, ou ambos ao mesmo tempo. Então, também encontramos uma espécie de continuum ao lado da psicose. Não há psicose extraordinária como na clínica psiquiátrica clássica, que se destacou antes da entrada do medicamento; há também todo tipo de fenômenos nesse continuum. Na sua prática, os psicanalistas vêem mais pessoas que estão mais do lado da  psicose ordinária. Então, entre a neurose clássica, de  um lado, e a psicose extraordinária, de outro, encontramos fenômenos cruzados,  mistos que não são facilmente classificáveis. Existe um campo da clínica que deve ser explorado qualitativamente. Mas, é preciso fazer distinção entre neurose e psicose,  como dois pólos completamente fundamentais.

Jacques Munier:  É um fenômeno ligado ao estado atual de nossas sociedades ou à sua evolução? É um interesse progressivo dos  psicanalistas por este campo,  é uma pesquisa que abriu perspectivas, ou ambas, ao mesmo tempo?

Éric Laurent: Os psicanalistas não deixaram de manter um programa de pesquisa.

Jacques Munier: O próprio Lacan, em 1958, dirigiu um seminário sobre os psicóticos.

Éric Laurent: Lacan não abandonou a apresentação de pacientes com os quais ele formou gerações de psicanalistas na disciplina da entrevista com o sujeito psicótico.

Jacques Munier: Com a questão da interpretação…

Éric Laurent: Sim, e a questão de como se aproximar da singularidade do sujeito que se entrevistava. Como ajudar este sujeito, como nesta entrevista, obter efeitos sobre a construção em andamento, seu eventual delírio,  ou como afastá-lo de uma passagem ao ato,  e intervir da melhor maneira? Após o seminário do qual você falou, Lacan produziu seu escrito intitulado “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”. Depois disso, ele não parou de  buscar compreender o inconsciente mais além de sua estrutura e a disposição que recebe na neurose. O programa de trabalho de Lacan consistiu então em fazer um inconsciente a partir do campo da psicose, que é um campo mais amplo.

Jacques Munier: Interpretar a psicose, é ter um olhar  sobre o  inconsciente a céu aberto…

Eric Laurent: Sim, é um inconsciente cujo céu não está coberto pelo que Freud chamou de o complexo de Édipo. O essencial já não é a tragédia de Sófocles, onde o menino quer matar seu pai para ter sua mãe pra ele sozinho e dormir com ela… É, além disso. O complexo de Édipo responde mais à pergunta que o filósofo colocou para a sua irmã em análise com Freud: “Quando Freud sabe que ele deve parar? Por que ele para na questão do pai? “

Wittgenstein se interrogava sobre  a interpretação na linguagem. E mais que isso, o complexo de Édipo. Na neurose, há um ponto que é nec plus ultra: não se vai mais longe. Isto  quer dizer que existe um personagem central que define a vida psíquica, o drama psíquico de cada um. É o pai, suas falhas, seus limites, tudo o que ele tem para censurar.

Jacques Munier: O Nome-do-Pai?

Éric Laurent: Sim, este Nome-do-Pai faz um ponto de amarração,  um ponto de capitón, diz Lacan.  Mas  é precisamente esse ponto que não existe na psicose. Então, como é que isso para? Como funciona a certeza que existe na psicose? É assim que se faz a passagem da psicose extraordinária para a psicose ordinária.

Jacques-Alain Miller apresentou o termo “psicose ordinária”  há dez anos. Esta proposição mantém o termo de psicose que data do século XIX, que a psiquiatria de hoje questiona. Mas esse termo, nós preservamos porque é o legado da clínica psiquiátrica  clássica, a de antes da medicação, aquela cujos praticantes – os alunos, e também os professores – se interessavam pelos ditos do sujeito.

Jacques Munier: Se prestava uma atenção cuidadosa, se fazia  interpretação….

Éric Laurent: Claro, se escutava para poder se orientar. Se pretendia alcançar  certo real da doença, com base nas palavras do paciente, enquanto a psiquiatria atual se dedica a uma investigação biológica que permita a separação das afecções. É por esse outro viés que se busca hoje o real em jogo, que por outro lado, até o momento não se tem encontrado.

Jacques Munier: Se fala então de “Psicose compensada”, “psicose suplementada”, “desencadeada” ou “medicada”, ou ainda de  “psicose em terapia”, “psicose em análise” ou de  “psicose sinthomatizada “… Encontrei esta lista de termos técnicos no livro A Psicose Ordinária. A convenção  de Antibes, publicado em 1999.

Eric Laurent: É verdade que os psicanalistas encontram em sua prática todos os tipos de sujeitos psicóticos neste continuum que evolui. Com a ação dos medicamentos psicotrópicos, há pessoas que poderão utilizar terapia medicamentosa em dado momento formular uma questão,  mas é desejável que possam prescindir dela o quanto antes. Isso só justifica continuar ou formular uma questão sobre experiência que tem atravessado o sentido e como se situa em relação a isso. O sujeito muitas vezes se encontra bastante afetado, para se contentar com conselhos piedosos,  tais como “Esqueça tudo isso”, “Está tudo bem”, “ Sua vida vai voltar ao que era”. Há fenômenos tais que o sujeito que teve que viver, encontrará na psicanálise, na conversa singular com o psicanalista, a propósito do que ele tem atravessado,  recursos para se orientar em sua existência.

Jacques Munier: Hoje há um aumento  dessas  psicoses, dessas  afecções?

Éric Laurent: Sim, há um consenso  geral. Existe um aumento quantitativo. Existem  menos neuroses clássicas.

Jacques Munier: Menos histerias, menos neurose obsessiva?

Éric Laurent: Sim, ou melhor, com outras máscaras. É um debate. Há um deslizamento da clínica. A clínica não é constituída por espécies biológicas darwinianas que existiriam em um mundo conforme Linné com a  classificação das espécies. Os próprios biólogos criticam a noção justamente para situar a ênfase nos processos. A clínica se move por razões que são as do saber, as da técnica. É claro que o impacto das medicações, dos psicotrópicos deslocou os antigos paradigmas e criou um  novo.

Jacques Munier: Você eventualmente os utiliza nos tratamentos?

Eric Laurent: Claro. A prática psicanalítica contemporânea está em um mundo onde a medicina é onipresente. Cada um de nós toma medicamentos para muitas coisas. Os sujeitos que sofrem podem recorrer a estes medicamentos. Existe esse ponto no saber, mas há também deslizamentos socioculturais. Em nossa sociedade, a questão do pai se modificou de cima a baixo. Podemos deduzir disso que, se esse horizonte do complexo de Édipo é fundamental, a noção de pai é, no entanto, trabalhada em nossas sociedades de uma maneira particular. A questão do declínio da autoridade tem destaque, etc. Cada vez mais, os sujeitos não têm confiança na tradição, nas formas de fazer, nos costumes. Isso dá um certo número de fenômenos que os sociólogos isolaram como a auto-fadiga, o crepúsculo do dever, que evoca os títulos dos livros de Alain Ehrenberg e Gilles Lipovetsky. Este tipo de fenômeno que os sociólogos demonstram, enfatizam o peso de reinvenção que cada um deve suportar.

Jacques Munier: Seria como se nesta sociedade de individualistas cada um criasse seu próprio modelo…

Éric Laurent: Porque ela se situa de outra maneira trabalha com entrevistas, com questionário, etc., a sociologia é levada a subestimar o que poderíamos chamar de loucura ou incompletude do outro e os efeitos a que isso induz. Não é apenas um efeito de fadiga e de depressão, mas também um efeito da loucura ordinária. É o que a psicanálise traz para esse campo.

Jacques Munier: Entre a psicose ordinária e a loucura ordinária, há apenas um passo no nível da expressão. Em todo caso, isso coloca a questão de finalmente saber: “Quem é louco? O que é um louco? “Para responder a isso, Lacan preconizou o tornar-se “secretário do alienado”.

(Jacques Munier lê um fragmento do Seminário O Sinthoma ao público)

A partir de que momento se está louco? Vale a pena colocar esta questão, mas no momento, a pergunta que faço é esta, Joyce estava louco? Louco, por que, depois de tudo, Joyce não teria sido? Isto é pela razão de que não é um privilégio, se é verdade que, na maioria, o simbólico, o imaginário e o real são embolados até o ponto de continuar uns nos outros, na ausência da operação que os distinga […] Por esta razão, não é um privilégio ser louco. […] Por que não conceber o caso de Joyce nos seguintes termos? Seu desejo de ser um artista que ocupará todo o mundo, o maior número possível de pessoas em todo caso, não é exatamente o que compensa o fato de seu pai nunca ter sido pai dele? […] Não há algo como uma compensação por essa renúncia paterna, desta verwerfung de fato, no fato de que Joyce se sentia imperiosamente interpelado?

Lacan faz alusão verwerfung, a foraclusão do Nome-do-Pai. É um trecho do seminário, Livro XXIII, O Sinthoma, (1975-1976)

Eric Laurent: Estamos no cerne deste problema. Lacan diz: “Não é mais um privilégio ser louco”. Certamente, que privilégio estranho! É um desejo de não abordar a questão da loucura como um déficit, mas a partir da forma original de linguagem. Sabe-se que Joyce não apresentou na sua vida sintomas que tenham tornado necessário recorrer à psiquiatria (infelizmente, este não foi o caso de sua filha que passou anos internada no hospital). É em um continuum que a questão pode ser colocada adequadamente. É o desejo de Lacan de manter o inconsciente e seus modos de distribuição nas categorias do real, do simbólico e do imaginário. Resumindo: o imaginário é o corpo; o simbólico, são as palavras que se diz; O real, são os efeitos que tem o gozo no corpo, os acontecimentos que atravessam este corpo que é tomado pela substância gozante. Trata-se de compreender esta distribuição a partir de um modo de generalização suficientemente poderoso, que permita prescindir qualitativamente da partição muito simples entre as categorias de psicose extraordinária e neurose clássica.

Jacques Munier: O tratamento é muito mais uma questão de escuta e interpretação, o que coloca também toda a questão da linguagem. Lacan insistiu nisso. Você recordou que uma série de avanços no campo da biologia, da química dos medicamento fizeram evoluir nosso olhar sobre a psicose, mas igualmente também tivemos teorias da linguagem e, particularmente hoje, a pragmática, a análise dos discursos. Esta evolução científica nos permite levar outro olhar sobre a psicose.

Éric Laurent: Há também na obra de Lacan um giro pragmático. Ênfase nos discursos, que são a maneira de fazer, que define o significado das palavras, seu uso em determinada sociedade para além da tradição. No início dos anos setenta, ele propôs quatro discursos, que ele definiu como discursos que sustentam, modos normatizados,  para além da questão das tradições, de estabelecimento da ligação entre palavras e o que estas querem dizer. Este giro pragmático é crucial para o programa de pesquisa da psicose ordinária. Trata-se de ver como os sujeitos tentam manter juntos os efeitos do  parasitismo da linguagem que atravessa seu corpo, e os acontecimentos extraordinários que eventualmente ocorrem. Como manter isso junto sem o apoio de um discurso estabelecido? Na psicose ordinária, a pragmática está em primeiro plano. É também o que nos permite separar-nos da abordagem da psicose por comportamento ou behaviorismo psicótico. Com efeito, se as psicoses extraordinárias foram reveladas por distúrbios comportamentais maciços, os comportamentos com os quais temos de lidar  na psicose ordinária muitas vezes não apresentam nada disso. Eles são raros: estilo de vida particular, invenções. Querer tratar  a partir do comportamento pode produzir fenômenos estranhos, a partir do momento em que se deixa de lado o modo  próprio como o sujeito se define, no que fala de si, e falando se constrói como sujeito num mundo totalmente banhado pela linguagem.

Jacques Munier: estudos recentes sobre a pragmática da linguagem se juntam, especialmente em certos linguistas pós Chomsky, para dizer que, no fundo, você nunca sabe o que diz. Pode-se apenas sabê-lo por meio da conversação, do intercâmbio linguístico. A pragmática, esse foi o caso de Lacan, traz à teoria psicanalítica para a abordagem da psicose uma luz importante.

Eric Laurent: essa abordagem é linguística e lógica. A formulação que você sugeriu que alguns propõem resumir, a problemática da leitura cética de Wittgenstien que o filósofo americano Saul Kripke desenvolveu bastante (estamos falando do paradoxo de Kripke), é que não se sabe o significado de uma palavra, finalmente, mais do que em uma estabilização dos usos e que é em vão querer definir isso fora de um espaço de conversação.

É o que a psicose ordinária justamente convida; sem acompanhar o sujeito em grandes desconstruções, eventualmente delirantes, que permanecem singulares, se trata de manter uma conversação sobre os acontecimentos de corpo que poderiam encontrar em grau de certeza, e sem reduzir isso aos comportamentos ou ao estilo de vida do sujeito em sua particularidade, eventualmente bizarra.

Jacques Munier: evocamos a foraclusão do Nome-do-Pai. Lacan enfatiza que essa foraclusão desnuda a relação com a língua. Daí a importância do intercâmbio entre o psicanalista e o paciente…

Éric Laurent: porque a relação com a linguagem é nua, na verdade. É uma variante do “a céu aberto” que Freud instalou. Não há mais proteção. Não há mais cobertura, não há mais garantias de que as palavras querem dizer alguma uma coisa, porque, em última análise, foi dito pelo pai, coma declinação do Nome-do-Pai e da tradição. Há uma conversação que não deve encerrar-se no fechamento delirante, mas sim permitir uma abertura, um percurso sobre o significado da experiência.

Tradução: Jussara Jovita Souza da Rosa

Notas
1 França-Cultura, “Os caminhos do conhecimento”, segunda-feira, 4 de setembro de 2006. Transcrição: Marie-Christine Jannot | Tradução do francês ao espanhol: María Inés Negri. Publicado em Virtuália 16.  http://www.revistavirtualia.com/articulos/501/formas-contemporaneas-de-la-psicosis/la-psicosis-ordinaria