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EDITORIAL Lacan 21 nº10


lacan21 - 30 de maio de 2021 - 0 comments

Iordan Gurgel – EBP/AMP

Apresento-lhes o número 10 da Revista LACAN XXI da FAPOL, que tomou como causa de sua construção o tema do X ENAPOL “O novo no amor. Modalidades contemporâneas dos laços”, com ressonância maior no amor. Em tempos tão difíceis, já anunciado por Romulo no editorial do número passado, nada mais razoável do que solicitar aos colegas para falarem daquilo que está na psicanálise desde o começo ou, mais precisamente, antecedeu mesmo o seu inicio. Afinal, não foi Breuer que, assustado com o amor de transferência, recusou continuar com o tratamento de Ana O? A história sobre o amor de uma filha por seu pai, sua doença e os efeitos transferenciais, resultou no livro “Estudos sobre a histeria”, considerado a obra inaugural da psicanálise.

Assim como na experiência analítica, nesta edição quase não faremos outra coisa senão falar de amor. Este tema mobilizou os colegas das três Escolas da FAPOL e do Campo Freudiano, que atenderam à convocação pública de escreverem sobre o tema. O resultado, publicado nas diversas rubricas e também nas ilustrações e manifestações artísticas, neste número ganha um status diferenciado – Psicanálise e Artes –, sob a curadoria de Beatriz Garcia e Graciela Allende. Esta seção contempla a veia artística dos nossos colegas analistas – e que agradável surpresa receber tantas contribuições! – algumas aqui apresentadas e outras que passam a integrar o acervo da LACAN XXI.

Nestas páginas, vamos encontrar uma abordagem diversificada que pode contribuir para o debate sobre o amor, que pulsa, reverbera e vai encontrar seu leito de exposição no X ENAPOL Nesse âmbito, com o propósito de provocar a curiosidade e levar à leitura, apresentamos aqui algumas pistas do que temos pela frente. A começar pela entrevista com J.-A. Miller* que, feita em 2010, continua atualíssima – “só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina”. Amar feminiza!

Na sequência, vamos encontrar, ‘entre o gozo e o desejo: a ventilação amorosa’ e afirmações contundentes: – ‘a psicanálise é uma cura pelo amor’, ‘não existe O amor’; acompanhadas de perguntas instigantes: os analistas também amam? E será que se pode ‘a(r)mar um corpo’ a partir do amor narcisista? ‘Amor demais’ a partir da lógica do nãotoda? “É isto amor?” – “…um dizer enquanto acontecimento”… que se pode ler na experiência analítica!

Outras questões são ainda mais provocativas: ‘por onde entra o amor?’ O que é preciso ‘calar no amor’ para dar lugar ao giro em direção a um novo amor? E, como pensar ‘da solidão do UM às invenções na parceria amorosa’, senão pela erótica da contingência? – se enlaçar a partir de seus Uns-sozinhos!

Neste percurso, temos paradas obrigatórias para saber sobre as ‘vítimas do amor nas telas’; ‘o amor analítico’ que aposta nas pegadas do novo amor e ‘a função do amor na época neoliberal’. Mesmo sendo um caminho longo, vale a pena parar para ler sobre: ‘uma condição de amor, onde não há relação sexual’; ‘eleições sexuais e amorosas’; ‘o amor e a ordem de ferro’ e ‘o poder da escritura’. E, ainda, continuar perguntando: ‘dar o que não se tem’, segue sendo uma boa definição do amor? E sobre ‘o insosso no desarranjo de um amor’, o desejo do analista opera?

Mas, também vamos visitar “Os Escritos” e aí, falando da subversão do amor de transferência, observamos que o analista é “um parceiro que tem a chance de responder”, de uma forma diferente. E seguindo, verificamos que o paradoxo de “uma pequena enormidade” é constatar que o discurso analítico traz uma promessa: introduzir o novo – isso a partir do campo que produz o inconsciente, cujos impasses revelam-se no amor.

Mas, não só de amor escrevem os analistas nesta revista! Na rubrica Psicanálise na cidade, que faz jus ao princípio de que o analista deve estar presente para corresponder à subjetividade da época, encontramos algumas contribuições  que  tratam, por exemplo, destes tempos de pandemia:  ‘negacionismo e os campos de concentração’, resultado da aliança do discurso do mestre e a pulsão de morte à experiência dos colegas que falam da ‘invenção em PAUSA’, em tempos de pandemia. Mas, com ‘a psicanálise na instituição carcerária’, veremos que o analista é capaz de responder, com sua presença, ao ‘impossível de suportar’.

E tem mais! – pra não dizer que não falamos de contos e poemas, apresento os nossos artistas que nos fazem sentir: …sou ‘Soul’… que na terra amor germina; e para ‘concluir’, eles nos convidam a percorrer o  ‘labirinto’, saudar a todos com ‘esperança’ e, por saber que ‘o amor não é para covardes’, deixam uma pergunta no ar: …o que ficará do mundo que tivemos?

Agora sim, podemos concluir, com ‘abraços’ a todos e a cada um dos leitores e com agradecimentos especiais àqueles que contribuíram para que o amor, na forma destes escritos, pudesse aparecer de forma tão contundente. Aproveito ainda para convidá-los para um outro encontro, o americano, nos dias 8, 9 e 10 de outubro próximo – depois do qual, no dizer do poeta, “não sei se voltaremos iguais ou diferentes”.

Axé! – mas não sem antes dar um viva aos meus colegas de Bureau, Viviana e Ricardo, ao Conselho da FAPOL, à Comissão editorial: Adolfo Ruiz, Beatriz Garcia, Cleyton Andrade , Fernanda Otoni, Graciela Allende, Jussara Jovita, Patricia Tagle, Paula Kalfus, Silvina Rojas e a todos os autores, tradutores e leitores tocados pela pulsação do amor.

*Agradecemos a J.-A.Miller por ter autorizado a publicação.