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Ressonâncias do XXI Encontro da EBP  – “Adolescência, a idade do desejo”: Um saldo de saber


lacan21 - 10 de abril de 2017 - 0 comments

Lucila Maiorino Darrigo (EBP-AMP)
Manoel Motta. EBP. AMP. Variação Gidga.

Manoel Motta. EBP. AMP. Variação Gidga.

Gostaria de começar esta reflexão, retomando a ideia de que a Escola é um sujeito e, por isso, o ato de colocar os significantes que a determinam tem valor de interpretação1.

Quando paramos para pensar nas ressonâncias de um Encontro da Escola a partir de um saldo de saber, é inevitável nos voltarmos para o que se pode transmitir num evento que reúne membros e não membros de uma Escola e, portanto, no esforço e na responsabilidade que estão aí concernidos.

Cristina Drummond, num texto preparatório ao Encontro2 , propõe tomar a adolescência como um esforço de enunciação. Um esforço de dizer algo sobre o indizível, esforço de se contar como um.

A ideia de um esforço de enunciação concernente à adolescência – tema deste Encontro – e se junta ao esforço de enunciação que também fazemos todos, membros da Escola, para transmitir a psicanálise sem excluir o real que está em jogo na própria formação do analista: função de nossa Escola como presentificadora da psicanálise ao mundo, como ensina Lacan3 pensando na psicanálise em extensão ou, simplesmente, para transmitir o que a Escola pensa, como diz Miller na teoria de Turim.

Como saldo de saber do que ocorreu durante o XXI Encontro da EBP, destacaria os testemunhos de passe.

Em uma Escola, sabemos, cada um ensina a seu próprio risco e um analista só se autoriza de si mesmo. Quando ouvimos um testemunho de passe, isso fica patente. A coragem que um analista tem para subir à tribuna e testemunhar o que foi sua análise, tendo construindo um saber a ser transmitido, só pode se originar do desejo de “tornar-se responsável pelo progresso da Escola, tornar-se psicanalista da própria experiência.”4 Neste sentido, ouvir o que a Escola pensa a partir dos relatos dos AEs sempre me parece o ponto alto dos Encontros da AMP.

Neste Encontro, constatei algo que foi além. Os comentários feitos por Ram Mandil5 do que havíamos acabado de ouvir dos AEs teve um efeito de compreender, de uma forma muito singular, o enlaçamento da teoria com o vivo dos testemunhos.

Tivemos os testemunhos de Maria Cristina Giraldo AE/NEL; Kuky Mildner AE/EOL e Luis Fernando C. da Cunha AE/EBP numa mesa intitulada “corpo adolescente”.

Escutar um testemunho nos impacta, nos coloca num estado de certo torpor, nos toca o corpo, repercutindo para cada um de uma forma muito particular e quase impossível de se transmitir com palavras. Apenas palmas!

Em seguida, a leitura feita por Ram Mandil em seu comentário dos testemunhos foi orientadora. E aqui destaco o saldo de saber.

Ele escandiu cada testemunho em três movimentos no que toca o corpo adolescente: 1º. Movimento: A construção do corpo da fantasia.

2º. Movimento: A perturbação do corpo da fantasia e o encontro com o corpo real.

3º. Movimento: A “recomposição” do corpo a partir da experiência analítica, ou “o corpo do sinthoma”.

Destaco este momento como a pedra angular de um Encontro de Escola onde fica esclarecido para quem vem nos escutar “de fora”, o que pensa a Escola. Fica indicado para onde está apontada a bússola que nos norteia: para o um a um. Com especial importância voltada aos efeitos de uma análise a partir do testemunho daquele que demonstra sua passagem de analisante a analista.

O que se leva, ou, melhor dizendo, o que eu levei deste Encontro foi o efeito sobre o meu corpo, do esforço de enunciação que cada AE fez para dizer o indizível… e em seguida, o enredamento das pontuações precisas e preciosas daquele que cuidou de escutar e transmitir o que pôde recortar a partir do tema que havia nos tomado durante os três dias (e os meses que o precederam) do Encontro “Adolescência, a idade do desejo”.

Revisão: Jussara Jovita Souza da Rosa
1 Miller, J.-A. “Teoria de Turim: sobre o sujeito da Escola” in : http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/  numero_21/Teoria_de_Turim.pdf
2 Drummond, C. “Adolescência: um esforço de enunciação” in: http://www.encontrobrasileiro2016.org/  criastinadrummond-enunciacao
3 Lacan, J. (1967/2003) “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola.” In:
Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., pp.248-264
4 Lacan, J. idem , p.248
5 Mandil, R. – Comentário proferido na mesa do passe “Corpo adolescente” ocorrida no XXI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano em São Paulo, novembro 2016. (Inédito)