Wilker França – cartelizante EBP; Associado do Instituto de Psicanálise da Bahia
Queria escrever um texto sem palavras,
feito de silêncios e sensações.
Aflições não enquadradas,
sentimentos perpetrados no corpo,
dor presa no peito,
riso de canto de boca,
fruto de um pensamento
jamais-comunicável.
Queria escrever um texto sem letras,
onde o observável só pudesse
ser sentido
jamais entendível.
E cada afeto não fosse emoldurado,
quadrado, raquítico.
Empobrecido.
Que cada palavra não passasse pelo
crivo do entendimento,
do pensamento
ou da razão.
Queria escrever um texto sem linhas,
sem precisar de uma ordem,
de um sentido,
de um concatenamento de ideias.
Queria escrever um texto-ação,
um texto vinho,
um texto chão.
Um texto canto de passarinho
no ninho,
mordiscador de canto de boca.
Um texto gelo,
calado, desatado.
Queria escrever um texto bêbado.
Tonto.
Alegrinho.
Um texto imensidão.
Devastação.
Que não houvesse o mínimo
interesse na comunicação.
Queria escrever um texto silêncio.
Só a experiência me interessa!