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Um pesadelo não é sem angústia

Theresa Salazar. “Demiurgo”. Desenho. São Paulo. Marta Goldenberg - EOL-AMP Analisante: “Tive um pesadelo, horrível, T e L caçoavam  de minha situação de aposentada, me sinto descartada”. Analista: pesadelo, em que se diferencia de um sonho? Analisante: “…se desperta com angústia, é horroroso...”. Mais adiante acrescenta: “…a vida é cômica porque cada um está com seu próprio delírio. Ao reler minha escrita vejo tudo isso e  rio-me desta coisa de novela de Alberto Migré…” Este é o  recorte de uma sessão que me levou a  pensar nas  diferenças entre um sonho e  o pesadelo, e este alívio que algumas vezes...

lacan21 9 de novembro de 2019

Antes que eu não me desperte

“Círculo - chamas” . Fotografia. Img. free. Frederico Zeymer Feu de Carvalho - EBP-AMP “A vida é uma coisa completamente impossível que pode sonhar com o despertar absoluto”. Esse pensamento, extraído do diálogo de Lacan com Catherine Millot, explicita o que Lacan chamou de “sonho de despertar” (rêve de réveil). “Esse desejo de despertar não é outra coisa senão o sonho de se afogar no saber absoluto, do qual não há vestígio”, teria dito Lacan. Se o sonho é a realização de desejo, como sustenta Freud, é preciso, então, ver no sonho que abre o capítulo VII da Traumdeutung –...

lacan21 9 de novembro de 2019

Pede-se uma análise para continuar sonhando

Thereza Salazar. “Série Atopias”. 2. 2014. São Paulo. Flory Kruger - EOL-AMP Introdução O tema que nos convoca neste número de nossa Revista Lacan XXI tem a ver com o próximo Congresso da AMP: O Sonho. Sua interpretação e seu uso no tratamento analítico. Extraí o título deste trabalho de uma frase de Miller que diz assim: “Daí que, às vezes, o que desperta no sonho, a angústia, justifica que seja situada como aparente, como um pseudodespertar, que só está ali para permitir continuar sonhando”. Não há dúvida de que é um tema que nos interroga no centro mesmo de...

lacan21 9 de novembro de 2019

Sonho, um toque de despertar

Alejandra Koreck. Instalação em papel. Mostra “O estrangeiro”. EOL-AMP Cleide Pereira Monteiro - EBP-AMP O Prefácio à edição dos Escritos em livro de bolso (1969), Lacan dedica “para alguém graças a quem isto mais é signo...”, remetendo à onda de redemoinhos que seus Escritos tinham produzido. Inicia com uma referência ao conto de Poe, em alusão ao texto que abre seus Escritos, a saber, O Seminário sobre “A carta roubada”. Neste último, ele se utiliza do equívoco joyciano – a letter (carta/letra), a litter (dejeto) – para distinguir na carta/letra, sua dimensão de mensagem e outra, a de objeto. O...

lacan21 9 de novembro de 2019

Despertar a opacidade

Manolo Rodríguez. “A arca”. Acrílico sobre tela. 2012. Argentina. Gustavo Stiglitz - EOL-AMP   “Vende inteligência e compra assombro. A inteligência é opiniões e o assombro, intuição.” Máxima Zen O delírio psicanalítico e a perda de realidade “A psicanálise não é uma ciência… É um delírio - um delírio do qual se espera que leve a uma ciência. Podemos aguardar muito tempo! Não há progresso e o que se aguarda não é, precisamente, o que se recolhe*”. Em 1914, Freud escreve a seu filho mais velho, Martin, que estava no front de guerra e com quem compartilhava todas as questões...

lacan21 9 de novembro de 2019

“Um rio de fogo”. A diferença absluta de Freud

Thereza Salazar. “Entreato” – Tinta autoemotiva s. Metal industrial. São Paulo. Patricia Tagle Barton - NEL-AMP “O uso, o valor de uso do sonho, eis o que nos coloca no caminho de pensar nossa prática a partir do que o sinthoma do Um comporta de absoluto, a partir da diferença absoluta do Um...” Angelina Harari 1 Abertura em três movimentos Freud, ainda Certamente, em se tratando de Freud e dos sonhos, referimo-nos sempre à Traumdeutung,2 obra inaugural. O sonho – os sonhos – nos disse, são a via régia, a porta do inconsciente. Freud toma aí, um verso de Virgílio...

lacan21 9 de novembro de 2019

Sobre a necessária delimitação e distinção entre Escola e Instituto

Daniela Teggi. ¨Sem título¨. Fotografia. EOL- AMP Guillermo A. Belaga - EOL-AMP Eis, portanto, a organização que obriga a Fala a caminhar entre dois muros de silêncio para ali realizar as núpcias da confusão do arbítrio. Ela se ajeita com isso para suas funções de promoção: as Suficiências regulamentam a entrada dos Sapatinhos Apertados em suas dependências e as Beatitudes lhes apontam aqueles que constituirão os Bem-Necessários; em sentido inverso, é ao se dirigirem às Beatitudes que estes chegarão à Suficiência, e as Suficiências lhes responderão tirando de seu seio novas Beatitudes.1 Sem dúvida, para as Escolas da AMP, “Campo...

lacan21 1 de maio de 2019

Editorial - Silvina Rojas - EOL-AMP

Lisa Erbin. ´Sem título´. Óleo e Colagem. Técnica mista. EOL- AMP Queridos leitores, LACAN XXI n°7 está entre nós. Uma vez mais, em sua particularidade, propõe um mergulho na temporalidade do século sob a luz da orientação de Jacques Lacan. As consequências do seu ensino se escrevem aqui como  bússola de leitura de uma civilização que cada vez mais  revela distintas formas de fazer presentes o ódio, a cólera  e a indignação nos acontecimentos do nosso século. Os textos põem em ato esse ensino que espero possam apreender tomando ocasião por onde convier, fazendo ressonar algumas notas deles para provocar,...

lacan21 1 de maio de 2019

Amor, saber e ignorância na “Nota italiana”1

Nicolás Bertora. “Hueco”. Fotografía urbana. Maestría ICdeBA-Unsam Alejandro Reinoso - NEL-AMP “Só existe analista se esse desejo lhe advier,que já por isso ele seja rebotalho da dita (humanidade). Digo-o desde já: essaé a condição da qual, por alguma faceta de suas aventuras, o analista deve trazer a marca. Cabe aseus congêneres “saber” encontrá-la. Salta aos olhos que issosupõe um outro saber elaborado de antemão, do qualo saber científico forneceu o modeloe peloqual tem a responsabilidade. “É justamente aquela que lhe imputo, de haver transmitido unicamente aos rebotalhos da douta ignorância um desejo inédito”. J. Lacan, “Nota Italiana” Pode-se interrogar e...

lacan21 1 de maio de 2019

Alcançar a vitória na derrota

Luis Darío Salamone. ´Sem título´. Fotografia. EOL- AMP Viviana Berger - NEL-CdMx-AMP O argumento de nosso ENAPOL 2019 lança uma pergunta que me provocou. Diz o seguinte: “O ódio ao gozo do Outro é o que Lacan se refere como kakon. Seria, então, o ódio, um modo de constituir o Outro? Ainda que seja mediante sua exclusão?”1 A questão faz pensar na relação entre o ódio e o Outro, um Outro ao qual se apelaria a fim de constituí-lo, completo e consistente. O outro polo, o amor, quando não funciona na perspectiva do odioamoramento, implica coordenadas diferentes, ou seja, justamente...

lacan21 1 de maio de 2019

Uma paixão, alguns efeitos

Alejandra Koreck. ´Sem título´. Colagem feita à mão. EOL- AMP Andrea V. Zelaya - EOL-AMP A subjetividade de nossa época se encontra sob o manto de um progresso universalizante da ciência, “estamos imersos nele, que se volta para nós de maneira cada vez mais determinante, o que significa causal”1. Neste efeito de globalização que Miller denomina de “dispersão, dessegregativo”2, vislumbramos a ilusória liberação contemporânea, consoante à mundialização do mercado e dos intercâmbios desses valores no mundo. Porém, a ciência, em comunhão com o mercado, empurra à dispersão o que ela ignora, enquanto se mantém nas sombras, o inerente à condição...

lacan21 1 de maio de 2019

O kakon generalizado

Eduardo Médici. ´Névoa´. Acrílico sobre tela. 2009 Antonio Beneti - EBP-AMP O conceito de kakon foi utilizado por Lacan na Tese IV de seu texto de 1948 (pós-guerra), “A agressividade em psicanálise”, onde trabalha a questão da agressividade enquanto tendência correlativa a um modo de identificação narcísico que determina a estrutura formal do eu do homem. Na página 113, introduz a questão da passagem ao ato na psicose - citando a paranoia de auto punição - dizendo que o ato agressivo desfaz a construção delirante. Ou seja, a passagem ao ato na psicose enquanto uma solução para o mal estar...

lacan21 1 de maio de 2019

Parla! A psicanálise e o silêncio das estátuas

Gabriela Melluso. ´Espelhismo´. Fotografia. Psicanalista. Mestrado ICdeBA Unsam Henri Kaufmanner - EBP-AMP Ao nos falar sobre os afetos na experiência analítica, Miller1, a princípio, se pergunta se poderíamos considerá-los, em si mesmos, um índice de que neles haveria algo que toca a verdade. Referindo-se a Lacan, em Televisão, ressalta que, para a psicanálise, é preciso verificar o que de fato seria o afeto, isso que –não há como não reconhecer – toca o corpo, de maneira distinta de um acontecimento psicossomático, por exemplo. Os afetos articulam alma e corpo, respondem às variações entre o eu e o mundo. Para Miller,...

lacan21 1 de maio de 2019

Pulsão de morte, motérialité do laço social

Eduardo Médici. ´O espelho´. Acrílico sobre tela. 1987 Jésus Santiago - EBP-AMP A violência e a segregação são fenômenos contemporâneos que assumem uma importância decisiva na nossa agenda atual de trabalho – Campo Freudiano Ano Zero – agenda às voltas com o princípio de que o psicanalista não é neutro nem indiferente ao campo da política. Eis o desafio com o qual nos deparamos no momento atual: fazer-se presente, não apenas na clínica, mas também no campo político, não como partido político, mas como psicanalistas que, como diz Freud no Mal-estar, podem “oferecer algo à humanidade”. Cito Freud para dizer que, apesar da atualidade desta diretiva,...

lacan21 1 de maio de 2019

Um racismo e o outro

Eduardo Médici. ´Sem título´. Acrílico sobre papel. 1990 Mauricio Tarrab - EOL-AMP Não é sem uma certa inquietude que abordo este tema através de um parágrafo de Jacques Lacan do Seminário 18, para trabalhar um tema inquietante: “O racismo que me habita” *. As nascentes que levam a interrogar o fenômeno do racismo me excedem, como excedem à psicanálise. Ainda que eu acredite que a psicanálise possa e, portanto, deva fixar sua posição a respeito. Não digo a minha nem apenas a de cada psicanalista, já que isso corre por conta de cada um, mas que, frente ao racismo, a...

lacan21 1 de maio de 2019

É possível dignificar o gozo? “Fragmentos”: um desafio ético e político

Fotografias enviadas pela autora Clara María Holguín - NEL- AMP A indignação, índice da dignidade, nos introduz no campo do digno, e com isso, no registro da singularidade. Apoiando-me na proposta artística de Doris Salcedo, Fragmentos, criada no contexto do processo de Paz na Colômbia, me deixarei ensinar sobre um modo possível de dignificar o gozo; uma maneira de fazer do abjeto, causa de desejo. Desafio político que, ao mesmo tempo em que dá lugar à vítima– conforme o princípio analítico do um por um -, produz um laço entre o singular e o coletivo. Fazer com o impossível. A...

lacan21 1 de maio de 2019